segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Nao acontece no Brasil

post diretamente do blog novo

A idéia do blog "Só acontece no Brasil" é discutir as coisas absurdas (boas ou ruins) que acontecem no nosso querido Brasil. Entretanto, eu, como "correspondente internacional", resolvi criar este post falando de algo que vi hoje na rua e que NAO acontece no Brasil, assim como discutir a idéia que o brasileiro tem da vida aqui na Europa.

É senso-comum no Brasil que na Europa as ruas sao limpas, nao há mendigos e nem pobreza. Isso nao é verdade. A Alemanha é o unico país do mundo que possui um Estado-social. Isso significa que o Estado ajuda o cidadao com as necessidades basicas para a sua existencia. Ou seja, o governo paga uma certa quantia de dinheiro por mês para aqueles que necessitam. Há o Arbeitslosengeld, algo como um seguro-desemprego; o Wohngeld, ajuda-moradia; e o Kindergeld, o "dinheiro da crianca". Com essa ajuda você pode, teoricamente, sobreviver bem.

Assim, é lógico pensar que aqui nao existem sem-tetos ou mendigos. O que acontece é que, muitas vezes, as pessoas se acostumam com essa mordomia e deixam de buscar trabalho, ou qualquer ocupacao. Elas ficam o dia inteiro à toa, comendo e bebendo o dinheiro que o governo lhes dá de bandeija (ok, claro que nao estou generalizando aqui, já que até eu recebo parte dessa ajuda).

A cultura alema prega que o adolescente deve sair de casa assim que puder se virar sozinho. Desta forma, diversos jovens de pouco mais de 18 anos (ou ate menos) vao viver em republicas (os Wohngemeinschaften, ou WGs), dividindo um apartamento pequeno com mais 10 amigos e sem dinheiro nenhum, ou só com o que o governo lhes dá. Assim nascem os Punks. Eles nao estudam e nao trabalham, mas passam o dia todo na rua bebendo com os outros punks e seus cachorros (sim! Para ter cachorros aqui é preciso pagar imposto, mas mesmo assim eles têm). Ou seja, um bando de moleques bêbados te pedindo trocado na rua para comprar cerveja quente no supermercado.

O mais triste é que eles envelhecem e continuam vivendo a mesma vida. O governo até tenta obrigá-los a trabalhar, encontrando vagas, ameacando cortar a ajuda financeira ou diminuindo-a. Assim surgem os sem-teto. Quase nao se vê (na verdade só vi gente dormindo na rua mesmo em Paris, aqui nao), mas eles sempre estao no calcadao no centro, sentadinhos em seus tapetes, com seus cachorros gigantes e suas plaquinhas dizendo:
"Ajude-me, sou sem-teto e tenho fome".
Eles até sao mais educados que os punks, porque nao te abordam para pedir trocados. Ásvezes aparece um ou outro ajoelhado em uma almofadinha com as maos em concha, chorando. O interessante é que eles sempre estao com seus cachorros, e nunca criancas, como no Brasil. Acho que as pessoas aqui têm mais dó de cachorro do que de crianca.

Anyway. Quando se é alcólatra eu até entendo a incapacidade de trabalhar, porém quando se é saudável, nao entendo. As pessoas aqui têm obrigatoriamente que estudar até o equivalente à nossa oitava série. E sim, há vagas para todos nas escolas. Porque nao se consegue trabalho? Nao sei, sinceramente.

Depois de toda essa digrecao, chego ao que queria dizer desde o comeco:

Qual nao é a minha surpresa hoje, saindo do curso de alemao, ao ver um mendigo sentadinho na rua, com seus respectivos cachorro e plaquinha, com um livro na mao, lendo.

Isso nao acontece no Brasil.



ps. peco desculpas pela falta de til e c-cedilha. Meu teclado nao os tem.

3 comentários:

  1. Olá Srta. Bárbara,

    Muito interessante o artigo, principalmente a parte que diz respeito ao surgimento dos “punks”. É sempre bom conhecer a história através de outro ponto de vista.

    Interessante também a questão do estado-social, cheguei a confundi-lo com o “estado de bem estar” (Welfare State) mas depois, percebi que são coisas aparentemente diferentes, embora, com objetivos parecidos.

    Bom, era isso o que eu tinha a dizer. Gostei da iniciativa de fazer um blog (o babidayrell.blogspot.com). Espero que continue com ele.

    Abraços
    Elcio
    folhaazero.wordpress.com

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  2. oi elcio!
    muito obrigada pelos elogios. Acho que tinha que ter explicado melhor o conceito de estado-social, mas é exatamente isso que vc lincou ai.
    volte sempre!
    abraco

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  3. Muito interessante, Bárbara. Gostei muito de conhecer isso sobre a Alemanha. Bom, sempre vai haver alguns que vão querer fugir do sistema, mesmo que o sistema seja confortável.
    Quanto precisa pagar pra ter um cachorro?

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